quarta-feira, junho 01, 2005

Acordo mais cedo e visto-me apressado. O dia clareia lá fora enquanto visto as minhas roupas de pupilo. Saio do quarto e vou directamente à cozinha para almoçar. Josefa serve-me o sempre especial pequeno almoço quando estou sozinho, como se a maoir quantidade de comida me fizesse companhia. Agarro os livros e saio em direcção à casa do Professor Guerra. Atravesso ruas cheias de gente inútil atarefadas nas suas míseras vidas. Chego à imponente morada do meu tutor e habilmente abro o portão e sigo sem fazer barulho à porta. Bato ao de leve para o caso de ele ainda estar a dormir. Amanda prontamente me abre a porta enquanto limpa as mãos ao pano que sempre traz à cinta.
-O Senhor Professor ainda não se levantou, nem sei se lhe dará lição hoje.- a minha desilusão torna-se bem clara na minha cara e a velha empregada sentindo-o prontamente me consoloa-Mas ele ha-de vir não se preocupe, quer que lhe leve alguma coisa para comer à sala?
-Obrigado, Amanda. Eu já almocei, vou me preparando para a lição.
Ela sai então para a cozinha e eu habituado à casa sigo em silêncio para o escritório. O cheiro à madeira caracteristico das estantes invade-me as narinas e acalma-me ao dar-me um sentido de segurança. Sento-me na mesa que praticamente me pertence e rapidamente abro as gastas sebentas procurando o que deixei inacabado. Deixo a mão correr resolvendo o que não vejo porque a minha mente divaga ainda.
Ontem ´quando voltei fui ter com meu pai na esperança de conseguir alguma informação. Ofereço-me várias vezes para o ajudar e ele dá-me funções vãs e futis mas que me dão um sentido de responsabilidade. Mas ontem tratou-me como a criança que ainda sou despachando-me visivelmente irritado. A causa de tudo isso sabia-a eu be, o que ainda me deixou mais frustrado e irritado. Agora mais que nunca sentia que tinha que descobrir o propósito das visitas do Sr.Miguel. Nunca o suportei pelo efeito que sempre tinha sobre os meus pais. A seguir às suas visitas tanto o meu pai como a minha mãe ficavam visivelmente afectados mas nunca me foi explicado o porquê. Nem o porquê das suas inoportunas visitas ou porque lhe era permitida a entrada na minha casa. E a minha ignorância trazia a sempre uma frustração inerente por não poder controlar ou sequer ajudar.
O barulho da porta a abrir trouxe-me de volta à casa do Professor Guerra levantando-me à medida que me virava em direcção à porta. Ao ver o meu tutor desejei não me ter levantado. Trazia uma cara desagradável muito pior à que o estalajadeiro deixava em minha casa.
Remoeu um «Bom dia» tentando abrir a sua fechada expressão num sorriso muito pouco convincente.Sentou-se à secretária visivelmente atrapalhado ao tentar acordar de um sonho muito pouco agradável.Quando finalmente ganhou balanço suficiente lançou-se sobre mim tentando de uma forma paciente ensinar-me.
Saí mas cedo ainda preocupado com a condição do Professor, e mesmo depois da desculpa que Amanda me deu de que o Professor chegara bastante tarde e muito cansado na noite anterior. À medida que caminhava para casa pensava numa forma descobrir as coisas estranhas que se passavam. Não o podia afirmar com a minima certeza mas achava que o estalajadeiro tinha algo a ver com a disposição do Professor. Ainda havia de descobrir...